Rurópolis é um município de grande extensão territorial localizado no sudoeste do Pará, com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) e população dispersa entre zona urbana e zona rural. Cravada no entroncamento da rodovia Santarém-Cuiabá, ao longo da Transamazônica, a cidade recebe muitos viajantes. Com o início da pandemia, mesmo antes do primeiro caso da doença em Rurópolis, foi criado uma Comitê de Operações Emergenciais, com o objetivo de traçar um plano de enfrentamento que respeitasse as especificidades locais. A população estimada é de 50.510 habitantes e até 12 de agosto havia 843 casos confirmados de Covid.
Dentre as atividades previstas estava a orientação da população para utilizar kits de proteção como máscaras e álcool. Mas o que fazer quando as pessoas não têm condições de adquirir esses itens? A resposta veio da mobilização social. Primeiro, profissionais de saúde afastados por se enquadrarem em grupos de risco começaram a confeccionar as máscaras de TNT e engarrafar o álcool. A preocupação inicial era com os idosos que se deslocavam da zona rural para receber o benefício da aposentadoria. “Tivemos que enfrentar as diferenças culturais, econômicas e sociais entre zona rural e urbana. Para moradores do campo, o vírus nunca ia chegar. No entanto, um dos primeiros casos foi na zona rural”, lembra a autora do projeto, Shayanne Matos.
A iniciativa foi ganhando maiores proporções na medida em que foram chegando voluntários, como costureiras, estudantes, movimento de mulheres do campo e da cidade, profissionais de outras áreas. “Foi se formando uma rede que nos emocionou muito. A solidariedade contagiou todo mundo e envolveu a comunidade. Tendo essa ajuda intersetorial, conseguimos abranger a população necessitada”, comemora. Dona Joana Azevedo Freitas, 76 anos, diz da sua gratidão por confeccionar as máscaras para ajudar a população contra o corona vírus. Costureira, ela foi procurada por uma das enfermeiras do projeto e entrou na linha de frente no combate à pandemia.
Com o tempo, as máscaras de TNT foram sendo substituídas por máscaras de pano em função da sustentabilidade e durabilidade. Foram confeccionadas 9.900 máscaras de TNT, 3 mil máscaras de tecido e 4.950 tubos de álcool, beneficiando 2.950 pessoas da zona urbana e 2.000 pessoas da zona rural.
Os agentes comunitários de saúde foram o elo entre a população carente e os profissionais, identificando as demandas dos grupos de risco e distribuindo os kits de proteção. O trabalho também abrangeu a realização de blitz educativas e a distribuição de máscaras entre caminhoneiros. A experiência mostra que o engajamento social pode trazer resultados significativos. Rurópolis está entre os municípios do Baixo Amazonas Tapajós com menor taxa de ocupação de leitos, segunda menor taxa de letalidade, sétima menor taxa de incidência da doença e 89% dos doentes recuperados. “O que nós devemos aprender do projeto é a importância da intersetorialidade e da mobilização social como essenciais para levar o SUS adiante. Sozinhos não conseguimos. A sociedade ainda tem esperança que o SUS pode continuar”, conclui Shayanne.
O projeto foi selecionado na 1ª triagem de experiências exitosas na Mostra Virtual Brasil, aqui tem SUS – enfrentamento à Covid-19. A autora participou da live realizada no canal do Conasems no YouTube no dia 18 de agosto. Confira: