Milhares de contraceptivos foram doados por meio do projeto Saúde das Manas, uma parceria entre o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA Brasil) e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/PA)
Aos 42 anos e com cinco filhos, a servente escolar Leiliana Pereira reconhece a importância de cuidar da sua saúde sexual e reprodutiva e se prevenir de uma gravidez não intencional. Moradora de Portel, na Ilha do Marajó (PA), Leiliana é hoje paciente da telemedicina do Saúde das Manas e, após se consultar a distância com a médica ginecologista, foi encaminhada para receber sua primeira dose do anticoncepcional injetável disponibilizado pelo projeto.
A marajoara é uma das primeiras mulheres a usufruírem da doação do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que totaliza aproximadamente 470 mil reais em camisinhas, anticoncepcionais injetáveis e pílulas de emergências. A doação do UNFPA faz parte do projeto Saúde das Manas, realizado em parceria com o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Pará (Cosems/PA) e facilitará que as mulheres se previnam de gravidez indesejada e de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Milhares de anticoncepcionais injetáveis e pílulas de emergência estão a caminho do Arquipélago do Marajó para chegar às mãos da população. O primeiro município a receber a doação foi Portel, localizado na região administrativa do Marajó II, a 15 horas de viagem de navio da capital do estado, Belém. “É uma esperança nova de poder levar planejamento familiar e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis não só para a população do centro urbano, mas também para quem vive na zona ribeirinha”, acentua Simone Carvalho, secretária de saúde de Portel.
O coordenador geral de saúde do município de Melgaço, Daniel Balbi, acrescenta que a doação apoia a estratégia de planejamento familiar do sistema público de saúde. “Temos dificuldade de conseguir esses métodos contraceptivos em sua totalidade. Nossa demanda é grande e o que nos é fornecido geralmente não supre as necessidades do município. Por isso, o apoio do UNFPA é de suma importância”, explica.
Em breve, todos os demais 15 municípios também receberão os preservativos masculinos doados pelo UNFPA.
Escolha consciente – Leiliana teve acesso ao contraceptivo recém-chegado em Portel em primeira mão. “Achei muito bom que a doação vem justamente trazer o [anticoncepcional] injetável, porque eu, por exemplo, já usei pílula anticoncepcional anteriormente, mas esquecia, parava de tomar e acabava engravidando de novo”, relata.
Para a servente, além da possibilidade de escolher diferentes métodos contraceptivos (incluindo as opções já disponíveis no sistema público de saúde), um dos pontos de destaque do Saúde das Manas é a informação de qualidade.
Isso porque ela viveu na pele os desafios de não ter acesso à informação. Grávida do primeiro filho com apenas 17 anos, na época Leiliana nunca tinha tido contato com métodos contraceptivos. “Eu sou da região ribeirinha [rural] e lá é muito difícil. A gente não tem conhecimento nenhum nem do que é preservativo, muito menos como se deve usar e quais outras opções de anticoncepcionais existem”, conta. “Hoje, converso com todos os meus filhos abertamente sobre o assunto e é bom saber que, quando escolherem usar algum método, terão acesso facilmente, diferente de como foi comigo”, diz.
Saúde das Manas – A ação faz parte de um conjunto de esforços do Saúde das Manas para garantia dos direitos sexuais e reprodutivos. “A Saúde Sexual e Reprodutiva é um direito humano. Não existe direito sem acesso aos contraceptivos”, explica a representante do Fundo de População no Brasil, Astrid Bant. Além disso, a representante acrescenta que todos os contraceptivos e preservativos masculinos doados pelo UNFPA são pré-qualificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e receberam anuência da Anvisa para sua importação a fim de atender ao projeto. “Para nós, trata-se de uma estratégia para garantir que as mulheres tenham acesso aos insumos de qualidade e aos serviços de profissionais qualificados sob um olhar dos direitos humanos”, conclui Bant.
Além do acesso a métodos contraceptivos, o projeto também promove serviços como consultas gratuitas com médica ginecologista e obstetra, incentivo ao pré-natal, prevenção de gravidez não planejada e de infecções sexualmente transmissíveis, fortalecimento do sistema público de saúde, dentre outras linhas de trabalho.
Texto: Alice Martins Morais – Ascom/UNFPA